quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Tenho um relógio de pulso


Tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac.
Meus pés acompanham nervosos a batida dos ponteiros.Jogo os cabelos para trás, um ato involuntário.Não ouço simplesmente nada do que o professor diz.Estou em outro mundo, num mundo de sonhos.
Pego um pacote de balinhas de hortelã dentro do meu estojo e me concentro completamente em tirar a bala do pacote.Acabo arrebentando-o, mas consigo meu pequeno prêmio: a preciosa bala.
Levanto os olhos para o professor mas nem percebo seu olhar reprovador, estou envolta no meu mundo.Minha amiga disse que não custa nada sonhar.Eu não acreditava nela, porque sempre sonhava e tudo permanecia só utopia.
Até agora.Minha cabeça lateja de felicidade.Tudo que eu imaginei - ou quase tudo - tornou-se real.Um pequeno detalhe aqui, um probleminha ali, mas são coisas que posso ignorar facilmente e pensar na parte boa.Não custa nada sonhar.
O sinal toca e sou a primeira a fugir de dentro da sala.Pouco me importo com o que os outros vão pensar.Desço apressadamente, retendo a minha vontade de empurrar o aluno lerdo da minha frente.
Saio pela pequena porta da escola e lanço um olhar vasculhador sobre todos que estão ali.Procuro ele, procuro seu sorriso sarcástico e irrestivel.
Só encontro decepção.Ele sempre veio aqui, por que não hoje?
Penso o pior, me desespero internamente, mas não deixo transparecer, esse é o meu jeito.Sorrio e converso com meus amigos, parecendo animada.
Mas na verdade, só uma palavra retumba dentro de mim:
Decepção.

2 afogaram seus delírios junto comigo:

Marília Gehrke disse...

Sempre considerei a decepção um sentimento tão pernicioso quanto a indiferença. São cruéis.

Kaio R. Diniz disse...

mas sem nem mesmo saber o porquê?
acho que eu ficaria curioso antes de decepcionado. ;s